sábado, 30 de janeiro de 2010

Dr. William Lane Craig responde: Inerrância e Ressurreição!

Traduzido por Eliel Vieira





Questão:

Estava lendo um debate entre William Lane Craig e Bart Ehrman e não gostei do que li. Craig se recusou a responder se a Bíblia é ou não um livro inerrante quando foi perguntado sobre isso por um membro da platéia. Ele simplesmente deixou a questão de lado e respondeu que aquela não era a questão que eles estavam debatendo.

1 – O que existe fora do cânon que sustenta a morte Jesus, seu sepultamento, ressurreição física e ascensão aos céus?

2 – A mensagem de Jesus foi espalhada oralmente até que os evangelhos fossem escritos. Como sabemos que a mensagem não foi corrompida com lendas? Como Jesus ser sepultado por José de Arimatéia.

3 – E sobre outros realizadores de milagres das tradições pagãs como “Honi, o desenhista de círculos”, “Hanina ben Dosa” e “Apolônio de Tiana”. O fato destes pagãs terem praticado atos milagrosos similares aos de Jesus não enfraquece a credibilidade de Jesus como um realizador de milagres?

4 – E sobre as aparentes discrepâncias nos diferentes relatos sobre Jesus? Por favor, me dê uma resposta diferente de “tratam-se apenas de detalhes secundários e estas discrepâncias não contradizem o coração da questão”. Se formos a uma universidade e declararmos que a Bíblia é um livro inerrante, não deveríamos ser capazes de prover respostas a estas questões? Eu cito o sr. Ehrman em seu debate vs Craig na página 13:

“Em qual dia Jesus morreu e em qual horário? Ele morreu um dia antes do pão da Páscoa ser comido, como João explicitamente diz, ou ele morreu depois dele ser comido, como Marcos explicitamente diz? Ele morreu ao meio dia, como é dito em João, ou às 9 da manhã, como dito em Marcos? Jesus carregou sua cruz sozinho por todo o caminho ou Simão de Cirene a carregou? Isto depende de qual evangelho você lê. Os dois ladrões zombaram de Jesus a cruz ou apenas um deles zombou enquanto o outro o defendeu? Isto depende de qual evangelho você lê. O véu do templo se rasgou ao meio antes de Jesus morrer ou depois? Depende de qual evangelho você lê. Ou então pegue os relatos sobre a ressurreição. Quem foi à tumba no terceiro dia? Maria foi lá sozinha ou ela foi com outras mulheres? Se Maria foi lá com outras mulheres, quantas outras foram lá, quem eram elas e quais eram seus nomes? A pedra que lacrava o sepulcro rolou antes delas chegarem ou não? O que elas viram na tumba? Elas viram um homem, elas viram dois homens, ou elas viram um anjo? Depende do relato que você lê. O que elas disseram aos discípulos? Era para os discípulos permanecerem em Jerusalém e ver Jesus lá ou era para eles saírem e verem Jesus em Galiléia? As mulheres falaram com alguém ou não? Depende do relato que você lê. As mulheres falaram com alguém ou não? Depende do evangelho que você lê. Os discípulos nunca abandonaram Jerusalém ou eles a deixaram imediatamente rumo à Galiléia? Todas as respostas dependem de qual relato você lê”.

Bem, qualquer ajuda será bem vinda. Por favor, não me responda indicando livros ou websites como os que eu estou lendo destes debates: Evidences that Demands a Veredict [Evidências que Demandam um Veredicto] de McDowell e Em Defesa de Cristo (Editora Vida) de Strobell.

Posso receber uma resposta direta para cada uma destas questões do maior centro de apologética cristã do mundo?


Obrigado,

Grant


Resposta do Dr. Craig:
Você quer saber se pode receber respostas diretas a suas questões? Pode apostar! Leia:

Primeiro, para constar, você foi muito tendencioso quando disse que eu “simplesmente deixei de lado” a questão da inerrância bíblica em meu debate com Bart Ehrman sobre se existem evidências históricas para a ressurreição de Jesus. Uma maneira mais simpática e, eu acho, mais correta de colocar isto seria dizer, “Craig se recusou a permitir que Ehrman desencarquilhasse o debate para uma discussão sobre inerrância bíblica e manteve o debate nos trilhos”. Ou uma maneira mais correta ainda de se analisar a situação seria: “Ehrman tentou conduzir Craig a uma afirmação sobre a inerrância bíblica, assim ele poderia impugnar a objetividade de Craig e, por conseqüência, sua integridade como um historiador; mas Craig, sabendo que seu caso para a ressurreição de Jesus não pressupunha a inerrância bíblica, se recusou a morder a isca”.

Como eu expliquei em minha “Questão da Semana” sobre What Price Biblical Errancy [Qual é o preço da “Errância” Bíblica], Ehrman, quando era um cristão, tinha um sistema teológico muito falho no qual a inerrância bíblica ocupava o centro de suas crenças, então, assim que ele se convenceu de um único erro nas Escrituras, toda sua fé cristã entrou em colapso. Como resultado, a doutrina da inerrância bíblica soa absolutamente anormal ao seu pensamento. Mas o caso para a ressurreição de Jesus que eu propus no debate não pressupõe de forma alguma a inerrância dos documentos, desta forma, a doutrina da inerrância se torna irrelevante à medida que a convicção na ressurreição prossegue.

Agora, vamos às suas questões:


1 – O que existe fora do cânon que sustenta a morte Jesus, seu sepultamento, ressurreição física e ascensão aos céus?
Na verdade, existem muitas fontes extra-canônicas que sustentam a morte de Jesus, seu sepultamento e sua ressurreição, fontes que sobre as quais, eu suponho, você nunca pensou. Você está imaginando fontes extra-canônicas posteriores como Josefo e Tácito. Mas as fontes extra-canônicas realmente interessantes são as mais antigas, ou seja, as fontes utilizadas pelos escritores no Novo Testamento. Agora, antes que você proteste você precisa refletir e perceber que estas fontes não estão, elas mesmas, no cânon, mas elas encontram-se mais próximas aos eventos do que os livros canônicos. Estas fontes são, portanto, o centro do estudo histórico sobre Jesus atualmente, não as fontes extra-canônicas posteriores. Sinceramente, se você está focado em quais fontes posteriores existem sobre Jesus, você realmente está “comendo mosca”.

Quais são estas fontes? A história da Paixão usada por Marcos, a fórmula citada por Paulo em I Co 15: 3-5, a fonte especial de Mateus chamada M, a fonte especial de Lucas chamada L, e assim por diante. Algumas destas fontes são incrivelmente antigas (o que ajuda a responder a sua segunda questão). A história da paixão pré-Marcos provavelmente data dos anos 30 e está baseada em testemunhos oculares, e a fórmula pré-Paulina em I Co 15:3-5 foi datada para algum período dentro de poucos anos ou até mesmo meses após a morte de Jesus. Eu acho que você consegue perceber porque estas fontes são as que realmente importam, não alguns relatos posteriores como o de Josefo.

Agora, estas fontes em conjunto provêm testemunhos abundantes e independentes para a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus. Referências posteriores a Jesus pelo historiador romano Tácito, o historiador judeu Josefo, o escritor sírio Mara bar Serapion, escritos rabínicos, e escritores extra-bíblicos que confirmam o que os documentos do Novo Testamento nos dizem sobre Jesus não nos dão nada absolutamente novo. Você pode encontrar estas fontes citadas e discutidas no livro de R. T. France The Evidence for Jesus [A Evidência de Jesus] ou no livro de Robert Van Voorst Jesus outside the New Testament [Jesus fora do Novo Testamento]. O que é chave para o historiador, entretanto, não serão estas fontes posteriores, mas os documentos do Novo Testamento e suas fontes.

O que me leva a perguntá-lo: por que você está mais interessado nas fontes extra-canônicas do que nos próprios documentos primários? Sua questão não revela o preconceito de que os documentos do Novo Testamento não são historicamente confiáveis? Mas, se existem fontes fora do Novo Testamento que falam sobre Jesus, ah, esta é um evidência real!

Você precisa ter em mente que originalmente não existia nenhum livro chamado “O Novo Testamento”. Existiam apenas estes documentos separados circulando no primeiro século, relatos como o evangelho de Lucas, o evangelho de João, os Atos dos Apóstolos, a carta de Paulo a Corinto, Grécia, etc. Apenas alguns séculos depois a Igreja reuniu oficialmente estes documentos sob uma capa única, que veio a ser conhecida como o Novo Testamento. A Igreja reuniu apenas as fontes antigas, próximas a Jesus e aos apóstolos e deixou de fora os relatos posteriores, secundários, como os evangelhos apócrifos forjados, que todos sabiam ser meras fraudes. Então, desta forma, as melhores fontes históricas são as que foram reunidas no Novo Testamento. Pessoas que insistem que as evidências podem ser encontradas apenas em escritos fora do Novo Testamento não compreendem o que elas estão buscando. Elas estão reclamando que nós ignoramos as fontes primárias sobre Jesus em favor de fontes posteriores, secundárias, e menos confiáveis, o que não confere com a metodologia histórica.

A verdadeira questão é: quão confiáveis são os documentos sobre a morte de Jesus que foram reunidos no Novo Testamento? Isto nos leva a sua segunda questão.


2 - A mensagem de Jesus foi espalhada oralmente até que os evangelhos fossem escritos. Como sabemos que a mensagem não foi corrompida por lendas? Como Jesus ser sepultado por José de Arimatéia.

Em meu artigo Who Was Jesus [Quem foi Jesus] neste site, eu discuto cinco razões do porque nós podemos confiar na credibilidade dos evangelhos:

1. Não havia tempo suficiente para que influências legendárias eliminassem o coração dos fatos históricos.
2. Os evangelhos não são análogos aos contos folclóricos ou às “lendas urbanas” contemporâneas à época.
3. A transmissão judaica de tradições sagradas era altamente desenvolvida e confiável.
4. Existiam constrangimentos significantes na adulteração de tradições sobre Jesus, como a presença de testemunhas oculares e a supervisão dos apóstolos.
5. Os escritores dos evangelhos possuem um registro de confiabilidade histórica.

Eu não vou repetir aqui o que eu disse lá.

Completando estas considerações gerais, estudiosos enunciaram certos “critérios de autencidade” para ajudar a detectar informações historicamente confiáveis sobre Jesus até mesmo em um documento que possa não ser em geral confiável. O que estes critérios realmente se importam são declarações sobre o efeito de certos tipos de evidência sobre a probabilidade de várias afirmações ou eventos narrados nas fontes. Para algum afirmação ou evento S, evidência de certo tipo E, e nosso conhecimento prévio B, os critérios vão estabelecer – se todas as variáveis tiverem valores equivalentes – que, Pr (S/E&B) > Pr (S/B). Em outras palavras, sendo todos os valores iguais, a probabilidade de algum evento ou afirmação é maior dado, por exemplo, sua atestação independente e antiga do que se sem esta atestação.

Quais são os fatores que podem servir a favor de E aumentando a probabilidade de algum evento ou afirmação S? A seguir alguns dos mais importantes:

1. Congruência Histórica: S se enquadra com o conhecimento dos fatos históricos concernentes ao contexto no qual S supostamente ocorreu.
2. Atestação antiga e independente: S aparece em fontes múltiplas e próximas ao tempo no qual S supostamente aconteceu e que não dependem umas das outras nem de uma fonte comum.
3. Embaraço: S é incômodo ou contra-produtivo às pessoas que servem como fontes informativas de S.
4. Dissimilaridade: S provavelmente não se trata de pensamentos e tradições judaicas antecedentes e/ou pensamentos e tradições cristãs subseqüentes.
5. Semitismo: Vestígios de S são encontrados nas narrativas aramaicas ou hebraicas.
6. Coerência: S é consistente com fatos já estabelecidos sobre Jesus.

Observe que estes critérios não pressupõem a confiabilidade geral dos evangelhos. Eles se focam mais em um evento particular e dão evidência para pensar que este elemento específico da vida de Jesus é histórico, a despeito da confiabilidade geral do documento no qual este evento particular é relatado. Estes mesmos critérios são assim aplicados aos relatos de Jesus encontrados nos evangelhos apócrifos, ou escritos rabinos, ou até mesmo no Corão. Claro, se os evangelhos puderem ser demonstrados como documentos confiáveis, melhor ainda! Mas os critérios não dependem de nenhuma pressuposição deste tipo. Eles servem para encontrar vestígios do miolo histórico até mesmo no meio do lixo histórico. Assim, nós não precisamos nos inquietar em defender a confiabilidade geral dos evangelhos ou cada afirmação atribuída a Jesus nos evangelhos (muito menos sua inerrância!).

Agora, especificamente sobre o sepultamento de Jesus por José de Arimatéia, este é um dos fatos mais estabelecidos sobre Jesus. O espaço não me permite percorrer todos os detalhes da evidência sobre o sepultamento. Mas permita-me mencionar alguns pontos:

Primeiro, o sepultamento de Jesus é atestado multiplamente por fontes antigas e independentes. O relato do sepultamento de Jesus em uma tumba por José de Arimatéia faz parte da fonte de Marcos em relação à história da Paixão. Além disso, a fórmula citada por Paulo em I Co 15:3-5 se refere ao sepultamento de Jesus:


... que Jesus morreu pelos nossos pecados de acordo com as Escrituras,
e que ele foi sepultado,
e que ele foi ressuscitado ao terceiro dia de acordo com as Escrituras,
e que ele apareceu a Cefas, então aos Doze.

Mas, podemos pensar, este sepultamento mencionado na fórmula paulina se trata do mesmo sepultamento por José de Arimatéia? A resposta a esta questão se torna clara ao compararmos a fórmula paulina às narrativas dos evangelhos e os sermões presentes nos Atos dos Apóstolos.




Esta notável correspondência entre tradições independentes é uma prova convincente de que a fórmula paulina é um sumário em forma de tópicos dos eventos básicos sobre a paixão e ressurreição de Jesus, incluindo seu sepultamento na tumba. Nós, assim, temos evidências de duas das fontes independentes e antigas do Novo Testamento para o sepultamento de Jesus em uma tumba.

Mas isto não é tudo! Mais testemunhos independentes sobre o sepultamento de Jesus por José também são encontrados nas fontes por trás de Mateus e Lucas e o evangelho de João, para não mencionar o evangelho extra-bíblico de Pedro. As diferenças entre o relato de Marcos os relatos de Mateus e Lucas sugerem que os estes relatos posteriores (Mateus e Lucas) tiveram outras fontes além da fonte de Marcos. Estas diferenças existentes não são explicadas plausivelmente como os relatos de Mateus e Lucas sendo meras alterações do relato de Marcos, em razão de sua natureza irregular e variável, a inexplicável omissão de eventos como o interrogatório de Pilatos no centurião, e concordâncias em histórias presentes em Mateus e Lucas em contraste com Marcos. Além disso, Nós temos outro testemunho independente para o sepultamento no evangelho de João. Finalmente, nós temos o muito antigo sermão apostólico no livro de Atos, que muito provavelmente não foi uma criação de Lucas, mas uma antiga pregação dos apóstolos. Este sermão também faz menção ao sepultamento de Jesus em uma tumba. Assim, nós temos um número notável de fontes independentes para o sepultamento de Jesus, algumas destas fontes extraordinariamente antigas e próximas aos acontecimentos.

Segundo, como um membro do Sinédrio Judaico que condenou Jesus, José de Arimatéia dificilmente é uma invenção cristã. José é descrito como um homem rico, um membro do Sinédrio Judaico. O Sinédrio era uma espécie de alta corte judaica constituída de setenta dos líderes do judaísmo, que presidiam em Jerusalém. Existia uma hostilidade compreensível na igreja primitiva em relação aos membros do Sinédrio. Aos olhos dos cristãos, eles arquitetaram a condenação judicial de Jesus. Os sermões de Atos, por exemplo, chegam a dizer que os líderes judaicos crucificaram Jesus (Atos 2.23, 36; 4.10)! Dado este status que os membros do Sinédrio tinham – todos eles, de acordo com Marcos, votaram a favor da condenação de Jesus –, José é a última pessoa que alguém esperaria que cuidasse de Jesus. Assim, nas palavras do estudioso do Novo Testamento Raymond Brown, o sepultamento de Jesus por José é “muito provável”, uma vez que é “quase inexplicável” porque os cristãos inventariam uma história sobre um membro do Sinédrio fazendo um bem a Jesus.

Por estas e outras razões, a maioria dos críticos do Novo Testamento concorda que Jesus foi sepultado por José de Arimatéia em uma tumba. Uma vez que até Ehrman afirma isto, juntamente com a maioria dos estudiosos, por que você não?


3 – E sobre outros realizadores de milagres das tradições pagãs como “Honi, o desenhista de círculos”, “Hanina ben Dosa” e “Apolônio de Tiana”. O fato destes pagãos terem praticado atos milagrosos similares aos de Jesus não enfraquece a credibilidade de Jesus como um realizador de milagres?

Antes de qualquer coisa, estes personagens não são pagãos. Honi e Hanina ben Dosa eram santos judaicos que também tinham a fama de realizar milagres. Longe de enfraquecer a historicidade dos relatos dos evangelhos, a existência de tais figuras suporta a credibilidade dos relatos do ministério de Jesus como um realizador de milagres, uma vez que fica evidente que tais atividades estavam “em casa” no contexto judaico do primeiro século e não foram atribuídas a Jesus como resultado de alguma influência dos chamados “homens divinos” da mitologia pagã.

As histórias dos milagres de Jesus são tão representadas nas tradições dos evangelhos que seria uma ilusão considerá-las não fundamentadas na vida de Jesus. Assim, o consenso dos estudiosos do Novo Testamento é que Jesus praticou um ministério de realização de milagres – entretanto alguém pode querer interpretar ou explicar estes atos. No fim de seu longo e detalhado estudo dos milagres de Jesus, John Meier conclui:

"A atestação principal da figura de Jesus como curador de enfermidades físicas e doenças é assim mais forte do que a atestação de sua atividade como exorcista... Em resumo, o afirmação de que Jesus atuou e foi visto como um exorcista e curador durante seu ministério junto às pessoas possui tanta corroboração histórica quanto qualquer outra afirmação que nós possamos fazer sobre o Jesus da história (MEIER, A Marginal Jew, 2: 969-70, grifo meu)."

Os milagres de Jesus, como seus exorcismos, eram realizados para demonstrar a vinda iminente do Reino de Deus. Desta forma, eles funcionaram de forma fundamentalmente diferente do que as maravilhas realizadas pelos mágicos helênicos ou santos judaicos. Além disso, os milagres de Jesus diferem dos de Honi e Hanina uma vez que Jesus nunca orou para que um milagre fosse realizado; ele pode primeiro ter expressado agradecimento ao Pai, mas então ele efetivava os milagres por si mesmo. E ele os realiza em seu próprio nome, não no de Deus. Além disso, nem Honi nem Hanina exerceu um ministério profético, fez reivindicações messiânicas, ou trouxe qualquer ensinamento junto com seus milagres. Assim, Jesus é mais do que apenas um santo carismático judeu.

Quando a Apolônio de Tiana, trata-se de uma figura construída em parte por Philostratus séculos depois como um deliberado contra-ponto à cristandade. A Igreja havia alcançado um papel de bastante influência naquela época, então Philostratus construiu Apolônio como uma alternativa pagã a Jesus. De que forma isto prejudica a confiabilidade histórica dos relatos dos evangelhos sobre os milagres de Jesus?


4 – E sobre as aparentes contradições nos diferentes relatos sobre Jesus?
Aqui está sua resposta direta, Grant: não importa. Eu poderia aceitar que todas estas aparentes discrepâncias são insolúveis, e isto não afetaria meu argumento histórico em nada. Não acredita em mim? Então deixe Bart Ehrman dizer por si mesmo. Ele pensa que estas aparentes contradições citadas por ele prejudicam a credibilidade histórica dos fatos sobre os quais meu argumento está baseado? Não! Ele diz:

"A ressurreição de Jesus se encontra no coração da fé cristã. Infelizmente, esta é uma tradição sobre Jesus que os historiadores têm dificuldade de lidar. Como eu disse, existem algumas coisas que nós podemos dizer com certeza sobre Jesus após sua morte. Nós podemos dizer que relativa certeza, por exemplo, que ele foi sepultado...

Alguns estudiosos têm argumentado que é mais plausível que Jesus tenha, na verdade, sido depositado em uma tumba comum, o que aconteceu em algumas vezes, ou foi, como aconteceu a muitas outras pessoas crucificadas, simplesmente deixado para ser comido por animais (o que também geralmente acontecia a pessoas crucificadas durante o Império Romano). Mas os relatos são bastante unânimes em dizer (os relatos primitivos que temos são unânimes em dizer) que Jesus foi, na verdade, sepultado por seu seguidor, José de Arimatéia e, assim, é relativamente certo que foi isto o que aconteceu.

Nós também temos sólidas tradições que indicam que as mulheres encontraram esta tumba vazia três dias depois. Isto é atestado em todas as fontes dos evangelhos, antigas e posteriores, e assim este fato parece ser um ponto de partida histórico. Assim, eu acho que nós podemos dizer que após a morte de Jesus, com alguma (provavelmente com alguma) certeza, ele foi sepultado, possivelmente por seu seguidor, José de Arimatéia, e que três dias depois ele pareceu não estar em sua tumba (“From Jesus to Constantine: a History of Early Christianity” Lecture 4: “Oral and Written Traditions about Jesus” [The Teaching Company,2003])."


O mesmo acontece em dobro – bem, muitas vezes mais do que o dobro – em relação à crucificação de Jesus. Este evento é reconhecido como um dos mais sólidos e estabelecidos fatos sobre a história de Jesus, negado apenas por malucos e por mulçumanos. Ainda que as cinco primeiras discrepâncias citadas por Ehrman estejam totalmente conectadas, elas não estão com as narrativas sobre o sepultamento e a tumba vazia, mas com os relatos da crucificação! Então você vai negar que Jesus de Nazaré foi crucificado pelas autoridades romanas durante a Páscoa judaica no ano 30 d.C. em razão destas diferenças nas narrativas? Se sim, Grant, você não apenas vai marginalizar a si mesmo intelectualmente, mas também vai mostrar que você não está buscando sinceramente a verdade.

Viu agora, Grant, porque eu me recusei a entrar em uma disputa sobre quantos anjos estavam junto à tumba? Uma vez que a historicidade da tumba vazia é posta, a disputa sobre a quantidade de anjos lá presentes simplesmente não importa.

Você diz que aqueles que vão à universidade compromissados com a inerrância bíblica devem ser aptos a explicar estas discrepâncias. Não mesmo, Grant! Por que pensar que o treinador Holmquist deve ser capaz de explicar estas discrepâncias? Por que pensar que até mesmo alguém no departamento de Novo Testamento deve ser capaz de explicá-las? Talvez simplesmente não existam informações históricas disponíveis para resolver todas as discrepâncias. Parece a mim que você deve achar que a crença na inerrância bíblica é conseguida através de indução lógica, neste caso, você realmente precisa, de fato, ler minha “Questão da Semana” What Price Bíblical Inerrancy?

Eu acho que o que você realmente quer dizer é que aqueles matriculados em tal universidade devem ter o interesse em explicar estas discrepâncias e, portanto, não devem “fugir” delas, como você me acusou de ter agido. Sim, eu concordaria com você que nós que acreditamos na inerrância devem ter o interesse em explicar tais discrepâncias. Mas existe tempo e lugar para tudo. Um debate sobre a historicidade da ressurreição de Jesus, onde o tempo é limitado e os fatos centrais sobre o caso são aceitos pela maioria dos estudiosos da área, não é lugar para se divertir discutindo tal questão. Esta questão da inerrância pode ser levantada e é levantada em tempos apropriados.

Então, vamos observar estas discrepâncias por alguns instantes:
Data e hora da crucificação: Todas as fontes concordam que Jesus foi crucificado na sexta-feira. O que está se discutido é se a Páscoa era celebrada na quinta-feira ou na sexta-feira. Os evangelhos sinóticos parecem sugerir que a Última Ceia de Jesus com seus discípulos na quinta-feira à noite era a refeição da Páscoa. João concorda que Jesus compartilhou a Última Ceia com seus discípulos na quinta-feira à noite antes da traição de Judas e de sua prisão. Mas João diz que os líderes judeus queriam eliminar Jesus antes que as festividades pascais começassem na sexta-feira à noite. Então, a Páscoa começava na quinta ou na sexta? A disputa se concentra toda nesta questão! (espero que isto coloque a questão em sua perspectiva correta a você).

Uma possibilidade é que João tenha movido a Páscoa para sexta para que a morte de Jesus se coincidisse com sacrifício pascal do cordeiro no Templo. Mas, talvez não: uma vez que existiam diferentes calendários em uso na Palestina do primeiro século, os sacrifícios podem ter sido realizados em mais de um dia. Os fariseus e as pessoas da Galiléia contavam os dias como começando no nascer do sol e terminando no próximo nascer do sol. Mas os saduceus e as pessoas da Judéia contavam os dias como começando no pôr-do-sol e terminando no próximo pôr-do-sol.

Em nossa era moderna, nós adotamos o que eu acho ser a convenção mais estranha sobre a contagem dos dias: começando no meio da noite à meia-noite e terminando na próxima madrugada. Bem, esta diferença na contagem dos dias desorienta completamente a datação de certos eventos, como você pode ver no comparativo abaixo:




O cordeiro da Páscoa era sacrificado no 14º dia do mês de Nisan. De acordo com a contagem galiléia, o 14º dia de Nisan começa às 6:00 da manhã, no dia que chamamos quinta-feira. Mas para os habitantes da Judéia, o 14º dia de Nisan começa 12 horas depois, às 6:00 da noite na nossa quinta-feira. Então, enquanto os galileus, seguidores das tradições judaicas, sacrificam o cordeiro da Páscoa na tarde do 14º dia de Nisan, em qual dia eles o fazem? Quinta-feria. E quando os habitantes da Judéia ofereceram seu cordeiro em sacrifício na tarde do 14º dia de Nisan, que dia era? Sexta-feira! Quando a noite caía eles comiam o cordeiro, por sua contagem, no 15º dia de Nisan. Assim, a fim de atender à demanda de galileus-fariseus e habitantes da judéia-saduceus na Páscoa, o sacerdócio do Templo tinha que realizar os sacrifícios da Páscoa tanto na quinta-feira como na sexta-feira. Jesus, como era galileu e como sabia de sua iminente prisão, escolheu celebrar a Páscoa na noite de quinta-feira, ao passo que os sacerdotes e escribas responsáveis pela prisão de Jesus celebraram a Páscoa pelo calendário da Judéia, como João diz. Embora não tenhamos nenhuma evidência de que os sacrifícios da Páscoa eram realizados em ambos os dias, tal solução é muito plausível. A população em Jerusalém se aglomerava em torno de 125 mil pessoas durante as festividades. Seria logisticamente impossível para os sacerdotes do templo sacrificar cordeiros suficientes para tantas pessoas entre 3:00 e 6:00 em uma tarde. Os sacrifícios deveriam ser realizados em mais de um dia, o que torna perfeitamente possível que Jesus e seus discípulos tenham celebrado a Páscoa na quinta-feira à noite, antes da prisão de Jesus.

O mesmo pode ser dito sobre o tempo da crucificação de Jesus: Marcos diz que a crucificação aconteceu à terceira hora, isto é, 9:00 da manhã, mas João diz que Jesus foi condenado “na sexta hora”, ou seja, por volta das 9:00. Novamente, talvez João mudou o tempo para depois. Mas, talvez não: nos evangelhos sinóticos e nos Atos dos Apóstolos as únicas horas do dia que são mencionadas (com apenas uma exceção) são a terceira, a sexta e a nona hora. Em uma época em que não se existia relógios, obviamente, números arredondados ou quartos de dia eram usados para identificar um tempo. A terceira hora poderia se referir a qualquer tempo entre 9:00 da manhã e o meio-dia.

Jesus carregou sua cruz por todo o caminho? – Não, Simão de Cirene provavelmente foi um personagem histórico, cujo papel João simplesmente escolheu omitir em sua narrativa. Simão provavelmente se impressionou com a ação dos soldados quando Jesus estava tão fraco para carregar a cruz por todo o percurso do Gólgota.

Os ladrões zombaram de Jesus? – Marcos simplesmente diz que aqueles que estavam crucificados com Jesus zombaram dele. Nenhum detalhe é dado. Mas Lucas nos diz como um destes bandidos expressou fé em Jesus. Você pode desconsiderar a história contada por Lucas como uma mera alteração piedosa da narrativa da crucificação. Mas como podemos saber que Lucas não está trabalhando ali com uma fonte independente que se lembra do arrependimento de um dos ladrões, ao passo que Marcos deixou isto passar batido? Não vejo motivos para acreditar que temos uma contradição aqui.

Quando véu do Templo se rasgou? – Esta suposta discrepância é puramente imaginária, uma vez que Marcos e Lucas mencionam este fato relativo à cortina do templo sem a intenção de especificar o tempo exato em que ocorreu. Lucas ficaria impressionado se ele lesse as acusações modernas de que ele contradisse Marcos ao reunir os sinais sobrenaturais que ocorreram durante o momento da morte de Jesus.

Quem foi à tumba? – Um grupo de mulheres, incluindo Maria Madalena que sempre é mencionada. João a prioriza em seu relato para conseguir um efeito dramático, mas ele sabe sobre as outras mulheres, como é evidente nas palavras de Maria, “Eles retiraram os Senhor da tumba e nós não sabemos onde o colocaram” (João 20.2, compare com 20.13). Nós não sabemos todos os nomes das outras mulheres presentes, mas entre elas estavam outra Maria, mãe de Tiago, José e Salomé. O fato de terem sido mulheres, além de homens, aparecerem nas narrativas como descobridoras da tumba vazia, é, a propósito, um dos fatos mais convincentes, que leva a maioria dos estudiosos a aceitar a historicidade da narrativa.

A pedra que lacrava o sepulcro não estava mais lacrando a tumba antes delas chegarem lá? O que elas viram? – Sim, a pedra não estava mais lacrando a sepultura quando elas chegaram lá; não há discrepância alguma aqui. Elas viram um ou dois anjos. O “homem jovem” citado por Marcos é claramente uma figura angélica, como pode ser evidenciado por seu traje branco, sua mensagem reveladora e a reação de medo e tremor das mulheres a ele. Além disso, os antigos interpretes de Marcos (Mateus e Lucas) entenderam que o jovem homem era um anjo.

O que foi dito a elas? – Foi dito a elas para que fossem à Galiléia, onde elas veriam Jesus. Como a narrativa de Lucas não menciona nenhuma aparição na Galiléia, ele altera o relato de Marcos da mensagem do anjo para seus propósitos literários. A tradição das aparições na Galiléia é muito antiga e virtualmente aceitada universalmente.

As mulheres falaram com alguém? – Claro, elas contaram! Quando Marcos diz que elas não disseram nada para ninguém, ele obviamente quis dizer que elas correram rapidamente até os discípulos. Marcos pressupõe as aparições na Galiléia, então, obviamente, ele não quis dizer que as mulheres falharam em sua missão de transmitir a mensagem do anjo aos discípulos. A discrepância é puramente imaginária.

Os discípulos deixaram Jerusalém rumo a Galiléia? – Claro, como a resposta acima indica. Lucas apenas escolheu não narrar nenhuma das aparições na Galiléia porque seu propósito era mostrar como o Evangelho se estabeleceu na mais santa das cidades dos judeus, Jerusalém.

Assim, algumas destas supostas discrepâncias são fáceis de responder e elas são exatamente o que esperamos encontrar em relatos independentes sobre o mesmo evento. Outras discrepâncias são mais difíceis de responder, mas no fim das contas elas não trazem grandes conseqüências. Historiadores esperam encontrar inconsistências como estas até mesmo nas fontes históricas mais sólidas. Nenhum historiador simplesmente joga fora uma fonte porque ela possui alguma inconsistência. Além disso, as inconsistências sobre as quais Ehrman está falando não estão dentro de uma fonte sozinha; elas estão entre fontes independentes comparadas. Mas não é uma conclusão lógica dizer que porque duas fontes independentes comparadas apresentam inconsistências, ambas as fontes são falsas. Na pior das hipóteses, uma delas é falsa, caso as inconsistências não possam ser harmonizadas.

O problema em se focar em discrepâncias é que nós deixamos de vigiar a floresta por causa de algumas árvores. O fato mais importante é que os evangelhos são incrivelmente harmoniosos no que eles relatam. As discrepâncias entre eles são em detalhes secundários. Todos os quatro evangelhos concordam que:

Jesus de Nazaré foi crucificado em Jerusalém pelas autoridades romanas durante as festividades da Páscoa, tendo sido preso e acusado de blasfêmia pelos líderes judaicos e então caluniado pelo crime de traição perante o governador Pilatos. Depois de várias horas ele morreu e foi sepultado na tarde da sexta-feira por José de Arimatéia em uma tumba, que foi selada com uma pedra. Algumas mulheres seguidoras de Jesus, incluindo Maria Madalena, observaram seu sepultamento, visitaram sua tumba no domingo pela manhã e a encontraram vazia. Então, Jesus apareceu vivo aos seus discípulos, incluindo Pedro, que então começaram a ser proclamadores da mensagem de Sua ressurreição.

Todos os evangelhos atestam estes fatos. Vários outros detalhes podem ser fornecidos ao se adicionar fatos que são atestados por três das quatro fontes. Portanto, não se engane por causa das pequenas discrepâncias. Caso contrário, você terá de ser cético também em relação a todas as outras narrativas históricas seculares que contém inconsistências como estas, o que é absolutamente irracional.



Dr. Willian Lane Craig é filósofo, teólogo, historiador do Novo Testamento e apologista cristão norte americano. Ele é autor sobre temas relacionados com a filosofia da religião, o Jesus histórico, a coerência da visão de mundo cristã, e a teologia natural. Ele é casado, vive em Atlanta, Geórgia e atualmente é professor de Filosofia na Faculdade de Teologia Talbot da Universidade Biola em La Miranda, Califórnia. É Ph.D em Filosofia pela University of Birmingham, Inglaterra e Ph.D em Teologia pela Universität München, Alemanha.


Deus abençoe vocês!

Agradecimento ao Eliel Vieira pela tradução e ao seu blog "desconstruindo"!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Reflexão: O amor de Cristo nos constrage.


"Porque o amor de Cristo nos constrange(...)" 2 Cor. 5:14.

O que o Apostolo Paulo está querendo dizer? Por que esse amor constrange?
O constragimento vem pelo ato de morrer por todos motivado simplesmente pelo amor. O mesmo Apostolo também diz em sua carta aos Romanos 5:7-8 "Dificilmente, alguém morreria por um justo; pois poderá que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós, sendo nós ainda pecadores."
Quando leio os Evangelhos fico constragido com as atitudes de Cristo frente a situações onde a grande maioria não gostariam de estar, nem mesmo eu.
Seu amor pelas pessoas superava as espectativas de uma sociedade doente e que excluía os diferentes. Jesus pregava para as prostitutas, cobradores de impostos, curava os leprosos, coxos, cegos, ressuscitava os mortos dentre outras coisas.
Nossa sociedade não é nada diferente daquela da época de Cristo.
Por acaso andamos nós com os excluídos? Ou fazemos de conta que não os enchergamos?
De fato o amor de Cristo nos constrage pois Ele andaria com aqueles que jamais gostaríamos de ter ao lado.
Esse amor transcende qualquer situação. No grego ele é denotado de "ágape", que significa "incondicional". Ele quer que tenhamos esse mesmo amor pelo nosso próximo. Ele disse aos seus discípulos no Evangelho de João: "Ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.".Esse é o amor que Cristo quer que tenhamos, um amor que desafie os conceitos e padrões de uma sociedade taxativa e preconceituosa. Devemos quebrar os nossos próprios paradigmas e vivenciar mais de Cristo, pois a verdade é que o amor Dele nos constrange. Nos constrange à sermos melhores do que "pensamos" que somos!
Deus abençoe a todos.
Marcelo Baço

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Paul C. Jong - E o estranho evangelho de João Batista


"Ora, eu vos lembro, irmãos, o evangelho que já vos anunciei; o qual também recebestes, e no qual perseverais, pelo qual também sois salvos, se é que o conservais tal como vo-lo anunciei; se não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (I Co. 15.1-4)

Um outro evangelho está sendo proclamado a partir da Coréia. Denominado "verdadeiro evangelho da água e do espírito", pela Internet, e-books e livros impressos e distribuídos gratuitamente com alta qualidade gráfica, esse evangelho está sendo disseminado em todo o mundo.

Seu proclamador é Paul C. Jong, pastor coreano que alega ter recebido a verdadeira revelação do evangelho que não foi anunciado desde a época de Constantino. Para quem pensa que "de graça se aceita a te injeção na testa", é bom verificar se vale a pena receber uma mensagem que o afaste do destino pretendido.

Fazendo interpretações alegóricas sem apoio escriturístico, atribuindo aos textos bíblicos significados que eles não possuem e inventando sentidos estranhos para determinadas palavras e expressões, a New Life Mission vem semeando sua confusa mensagem no Brasil e no mundo.

As diferenças entre a sua doutrina e a doutrina evangélica são tão sutis que já existem sites evangélicos indicando a leitura de livros desse grupo, sem se dar conta de que a aceitação da doutrina New Life implica em autocondenação, uma vez que Paul C. Jong afirma não haver salvação para quem não aceita seus ensinos.
Alertamos que tanto pior se torna a mentira quanto mais parecida ela for com a verdade.

EM QUE CONSISTE ESTE ESTRANHO EVANGELHO?

Poderíamos sintetizar a mensagem distorcida de Paul C. Jong da seguinte forma: "O batismo de Jesus era o meio pelo qual Cristo levou todos os nossos pecados para nos salvar. Jesus foi batizado por João Batista para levar todos os nossos pecados sobre Ele".'

A princípio, esta parece ser a única diferença na sua mensagem. Mas, para sustentá-la, ele será obrigado a lançar mão de muitas distorções, falsas interpretações e sutilezas que afetarão o evangelho de modo completo. Suas afirmações não só vão contra diversos pontos da mensagem cristã como também atingem pontos essenciais do cristianismo.

Segundo Jong, para que alguém seja salvo não basta apenas crer que Jesus morreu por seus pecados, é necessário crer também que o batismo de Jesus nas águas do Jordão efetuado por João Batista tem poder salvífico. Naquela ocasião, João estaria representando toda a humanidade e, ao batizar Jesus, teria simbolicamente colocado sua mão sobre a cabeça dele, transferindo todos os nossos pecados, como era feito com os animais sacrificados na Antiga Aliança. A partir de então, Jesus já estaria carregando os pecados da humanidade como o Cordeiro de Deus. Assim, na cruz, Cristo apenas estaria sendo julgado pelos pecados que já carregava. João Batista é considerado o último sumo sacerdote do Antigo Testamento.

MAIS "UM EVANGELHO" DOS ÚLTIMOS DIAS
Para o pastor coreano, este não é apenas um ponto na mensagem cristã,
mas um ponto vital da mesma, tão ou mais vital do que a cruz, sem o qual o homem não pode ser salvo. O evangelho teria perdido esta parte de sua mensagem nos tempos de Constantino, para só recuperá-la agora, no final do século 20. Ou seja, após cerca de 1700 anos de silêncio, esta tão importante verdade teria ressuscitado pelas mãos de Jong: "Este verdadeiro evangelho tem-se mantido vivo nas mãos de alguns que seguiram as Escrituras desde a época dos apóstolos. Tal como um rio que desapareceu abaixo do solo emerge novamente nas terras baixas, o verdadeiro evangelho veio à tona nos últimos dias para ser proclamado ao mundo inteiro".2
Apesar desse ensino, ele não diz quem são estes que mantiveram vivo o referido "verdadeiro evangelho". Não temos conhecimento de nenhum grupo ou seita, antigo ou moderno, que tenha posicionado as coisas nestes termos. Jong admite que "Este é o primeiro livro do mundo de hoje que fala do evangelho do batismo de Jesus como está escrito na Bíblia".3
Com essas afirmações, ele segue a trilha normal dos falsos profetas que fundaram movimentos mundiais, como Charles Taze Russel e Joseph Smith, os quais também alegavam ter resgatado um evangelho que estivera escondido desde os primeiros séculos do cristianismo. Parecem ignorar que o ensino do Novo Testamento não é de que nos últimos dias o evangelho seria resgatado, mas, sim, deturpado por falsas doutrinas (lTm4.1-4).

O EVANGELHO DE JOÃO BATISTA

Nesse evangelho, João Batista não é apenas alguém que não se julga digno de carregar as sandálias do Messias, mas assume o papel de co-salvador, sem o qual não haveria possibilidade de redenção. Não é um mero arauto, um precursor divinamente enviado, mas um homem de tamanho destaque e importância que esse evangelho recebe sua autoria: "Evangelho de João Batista". Paul C. Jong reclama que "temos a tendência de pensar demasiadamente em Jesus e ignoramos muito sobre João Batista, que chegou antes dele".4

Será que é porque os próprios autores do Novo Testamento assim o fizeram? Será que é porque Jesus é citado enfaticamente em todos os livros do Novo Testamento, bem como predito no Antigo, enquanto João Batista aparece apenas em cinco dos vinte e sete livros? Será que é porque o próprio João disse: "Importa que ele cresça e eu diminua?" (Jo 3.30). Será que é possível realmente pensar demasiadamente em Jesus? O apóstolo Paulo afirmou:

"Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado" (lCo 2.2). Não há qualquer referência a João Batista em suas cartas, que constituem quase um terço do Novo Testamento e são a mais completa exposição da doutrina cristã. O próprio Paulo também só enfatizou Jesus e ignorou João Batista.

A devoção da New Life por João é que vai além do normal. Jong o coloca como co-redentor da humanidade: "E por meio de João Batista e de Jesus Cristo, Deus realizou a salvação da humanidade. Somos salvos de todos os nossos pecados crendo na obra de redenção realizada por intermédio de João Batista e de Jesus Cristo".5

Mas a verdade é que "em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos" (At 4.12).

Em uma exaltação de João Batista quase idolátrica, lemos uma suma da
opinião de Jong sobre o significado do ministério dele: Resumindo, se
João não tivesse colocado as suas mãos sobre a cabeça de Jesus, em
outras palavras, se ele não tivesse batizado Jesus, será que mesmo assim
poderíamos ser redimidos? Não. Façamos uma retrospectiva. Se Jesus
não tivesse escolhido João Batista como representante de toda a
humanidade e tivesse removido todos os pecados por meio dele, será que
Ele poderia tirar os nossos pecados? Não, ele não poderia.

Jong continua ensinando ainda que em João 1.6 está o fato mais importante do evangelho, pois nos fala sobre quem cumpriu a tarefa de passar todos os pecados do mundo para Jesus,7 porém, o texto nada diz sobre esse ato de "passar os pecados do mundo para Jesus", e muito menos que esse seja o fato mais importante do evangelho. Antes, os fatos mais importantes do evangelho são a morte e a ressurreição de Cristo. O "evangelho" pregado pela New Life não é verdadeiro, mas uma criação da imaginação de Paul C. Jong, seu idealizador.

O que foi feito com João Batista no estranho evangelho pregado por Jong é muito semelhante ao que o catolicismo fez com Maria. Tomou uma figura coadjuvante nos escritos neotestamentários e a transformou em astro principal.

JOÃO BATISTA, O REPRESENTANTE DE TODA A HUMANIDADE
Não importa que Jong tenha afirmado isso diversas vezes em seu livro, não existe, em nenhum lugar dos evangelhos, e muito menos no restante do Novo Testamento, alguma afirmação de que João Batista estava representando toda a humanidade quando batizou Jesus.

Tentando provar suas afirmações na Bíblia, diz Jong: "Vamos descobrir o que os quatro evangelhos falam sobre João Batista, quem ele era, porque ele foi chamado de representante da humanidade ou o último sumo sacerdote.. ." Todavia, esta é apenas mais uma das sutilizas do autor. Em nenhum lugar dos quatro evangelhos João é chamado de representante de toda a humanidade. Aliás, Jong deve ser o único que criou e usa esta estranha expressão.

Isso não é exegese (interpretação de dentro para fora), mas, sim, eixegese (interpretação de fora para dentro), porque não se empenha em extrair o sentido do texto, mas em atribuir um sentido ao mesmo. Não é uma tentativa de entender o que o texto diz, mas de fazer que o mesmo diga o que a pessoa quer que ele diga.

JOÃO BATISTA NÃO FOI SUMO SACERDOTE EM NENHUM SENTIDO
"Por que precisamos entender a linhagem de João? Porque a Bíblia nos diz que João é o sumo sacerdote da humanidade".9 Mas isso também não é verdade. O sumo sacerdócio era uma instituição de Israel e não universal. Somente o sacerdócio de Jesus Cristo, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.10), tem abrangência universal. Antes de Jesus, não existia algo como um "sumo sacerdote da humanidade".
Querer utilizar a genealogia de João Batista como argumento é usar uma base contraditória. Se ele é o "sacerdote da humanidade", por que traçar sua linhagem de Israel? Israel, no tempo de João Batista, já tinha um sumo sacerdote legítimo no Novo Testamento (Jo 11.49-51). Colocá-lo como sumo sacerdote somente por ter batizado Jesus é tão fora de possibilidade como o absurdo de um escritor moderno que deu a Judas Iscariotes o papel de sumo sacerdote porque ele "entregou" o Cordeiro para ser sacrificado.

O SIGNIFICADO DO BATISMO DE JESUS
A New Life Mission ensina que quando João batizou Jesus transferiu todos os pecados da humanidade para Ele e que, desde então, o Senhor exerceu seu ministério "carregando os pecados da humanidade". Este seria o significado da expressão "assim nos convém cumprir toda a justiça" (Mt 3.15). Dentro desse contexto, Paul C. Jong interpreta a expressão: "O que significa cumprir toda a justiça? É lavar todos os pecados, transferindo-os para Jesus"
O cristianismo, até os nossos dias, tem sido o cristianismo do calvário, onde Jesus deu sua vida por nós e nos salvou. Esta nova doutrina fala agora de um cristianismo do Jordão, onde Jesus foi batizado, assumindo ali o pecado da humanidade. Não basta crer na cruz de Cristo para ser salvo, é necessário também crer neste batismo salvífico. Jong declara que "Jesus tirou todos os meus pecados com o seu batismo e como seu sangue".1 Todavia, a Bíblia só fala do sangue e da cruz como fontes de purificação, perdão e salvacão (Rm 3.25; Cl 1.20; Hb 9.15; lJo 1.7). Vale ainda notar que nenhum dos sermões dos apóstolos, no livro de Atos, faz quaisquer referências a respeito dessa questão.
Todos os falsos mestres e seitas edificam seu corpo doutrinário em pontos difíceis de entender, como já dissera o apóstolo Pedro (2Pe 3.16). As testemunhas-de-jeová, por exemplo, constroem sua doutrina da ressurreição de Jesus baseados em lPedro 3.18, e os mórmons ensinam seu batismo pelos mortos em lCoríntios 15.29. Com certeza, isso ocorre porque seus ensinos não conseguem subsistir diante dos textos evidentes. Este tipo de hermenêutica é mortal, e Paul C. Jong quer basear a sua em Mateus 3.15.

QUANDO SE DIZ O QUE A BÍBLIA NÃO DIZ
"E veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Filho do homem, profetiza contra os profetas de Israel que profetizam, e dize aos que só profetizam de seu coração: Ouvi a palavra do SENHOR; assim diz o Senhor DEUS: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e que nada viram! Os teus profetas, ó Israel, são como raposas nos desertos. Não subistes às brechas, nem reparastes o muro para a casa de Israel, para estardes firmes na peleja no dia do SENHOR. Viram vaidade e adivinhação mentirosa os que dizem: O SENHOR disse; quando o SENHOR não os enviou; e fazem que se espere o cumprimento da palavra" (Ez 13.1-6).

Constantemente, Paul C. Jong afirma em seus livros que "a Bíblia diz", quando, na verdade, ela não diz o que lhe é atribuído. Qualquer pessoa fica reverente quando ouve o que a Bíblia diz. Todavia, é mais prudente ser como os bereanos e verificar nas Escrituras se as coisas são realmente assim, isto é, se realmente diz o que alegam que está dizendo (At 17.11,12).

Há muitas sutilizas nas colocações de Jong. Em certas frases, ele utiliza palavras e interpretações bíblicas corretas, misturando-as com suas próprias idéias. Dessa forma, joio e trigo se mesclam, confundindo muitos cristãos, a ponto de levá-los a aceitar suas idéias como verdadeiras. Mas convém examinar bem todas as coisas. "Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo" (Cl 2.8).

A seguir, algumas distorções da New Life Mission:
"Ele caminhou para a água e abaixou sua cabeça diante de João: 'João, batiza-me agora, pois assim nos convém cumprir toda a justiça. Estou pronto para tirar todos os pecados do mundo e libertar toda a humanidade pelo meu batismo. Batiza-me agora!". Jesus nunca falou isso!

"Deus o predestinou (a João Batista) a ser o último sumo sacerdote, de acordo com sua promessa de redenção.
"Jesus nos disse que João Batista foi o último profeta, o último sumo sacerdote que passou todos os pecados do mundo para Ele13.

"Em Mateus 11.11, Deus enviou diante de Jesus o representante de toda a humanidade. João Batista foi o último sumo sacerdote dos homens".14

"Aqueles que crêem em Jesus têm sido batizados. Batismo significa: "ser lavado", "ser enterrado", "ser imerso", "transferir".' 0 que significa "batismo"? Significa "passar para"...' 16

Batismo não significa "transferir" nem ''passar para". Essa interpretação só é conhecida pelo pastor coreano. Nenhum erudito do grego confirma essa versão do batismo. Trata-se apenas de uma tentativa de Jong para forçar seus ensinos.
"Mas João Batista testificou: Eu vos batizo com água para que retomeis para Deus. Mas o Filho de Deus virá e será batizado por mim para que todos os seus pecados sejam transferidos para Ele. E se você crer ao ser batizado por mim, todos os seus pecados serão transferidos para Ele, da mesma forma que os pecados foram passados mediante a imposição das mãos no Antigo Testamento. Isto foi o que João testificou".17

Isso é pura ficção. Nada disso se encontra nas Escrituras.

UM FALSO PROFETA PODE SER INFLEXÍVEL
"Então Hananias, o profeta, tomou o jugo do pescoço do profeta Jeremias, e o quebrou. E falou Hananias na presença de todo o povo, dizendo: Assim diz o SENHOR: Assim, passados dois anos completos, quebrarei o jugo de Nabucodonosor, rei de Babilônia, de sobre o pescoço de todas as nações. E Jeremias, o profeta, seguiu o seu caminho" (Jr 28.10,11).

Paul C. Jong é o principal ou o único pregador do chamado "evangelho da água e do espírito". Embora admita que ninguém mais o pregue, não aceita, porém, que alguém possa ser salvo sem crer nos seus ensinos. Declara: "Portanto, sem fé no batismo de Jesus não podemos ser salvos". E mais: "Será que podemos ser salvos crendo apenas no sangue de Jesus? Isso pode nos dar salvação? Não. Não podemos ser salvos crendo apenas na morte de Jesus na cruz.

E continua: "Os evangelistas de hoje, porém, o ignoram completamente e dizem às pessoas que crer em Jesus já é o suficiente para serem salvas. Na verdade, eles estão levando as pessoas para viverem como pecadores por toda a vida e acabarem no inferno.' [...] Se você crer somente na crucificação sem conhecer a verdade da transposição dos pecados, nenhuma quantidade de fé irá conduzir-te a uma completa redenção".20

O fundador da New Life Mission segue o perfil dos falsos profetas que vieram antes dele. E inflexível em sua mensagem, negando que alguém possa ser salvo sem aceitá-la. Arroga-se como o único detentor da verdade. Baseia seus ensinos em textos de difícil interpretação, fazendo malabarismos hermenêuticos, tentando ajustar a Bíblia às suas idéias, ao invés de ajustar suas idéias à Bíblia. Faz inúmeras afirmações como se fossem da própria Escritura, quando não passam de produto de sua mente.

Por seu próprio site, sabemos que esse movimento tem um pouco mais de dez anos, sendo, porém, relativamente novo. Se ele vai submergir nas areias do tempo, como alguns movimentos heréticos, ou crescer e espalhar-se, como outros, não sabemos. Mas o fato é que tem confundido e desviado muitas pessoas da verdade. De modo algum podemos ficar calados. Antes, precisamos alertar os enganados e até mesmo os enganadores. Embora muitos gostem de fugir dos debates religiosos, as verdades espirituais, no entanto, são as únicas verdades que podem determinar o destino eterno de uma pessoa.

Paul C. Jong diz: "Ele [João Batistaj passou todos os pecados para Jesus por meio do batismo. Esta é a jubilosa notícia da redenção, o evangelho".2'

Nós, porém, os cristãos, dizemos com a Bíblia: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras. E foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (lCo 15.3,4). Esta é a jubilosa e verdadeira notícia da redenção, o evangelho !

Notas

1 O Tabernácuío: um retrato detalhado de Jesus Cristo, Paul C. Jong, Editora Hephzibah Publishing House, p.35.
2 Você verdadeiramente nasceu de novo da água e do esp!rito?, Paul C. Jong, Editora Hephzibah Publishing House, p.11-2.
3 lbid., p. 12.
4 lbid., p.114.
5 lbid., p. 126.
6 lbid., p. 148-9.
7 lbid., p. 116.
8 lbid., p.11.
9 lbid., p. 117.
10 lbid., p. 84.
11 lbid., p. 92.
12 lbid., p. 128.
13 lbid., p. 129.
14 lbid., p. 93.
15 lbid., p. 107.
16 lbid., p. 128.
17 lbid., p. 134.
18 lbid., p. 9.
19 lbid., p. 114.
20 lbid., p.115.
21 lbid., p. 113.

Jesus é Deus? (Parte 1)


Jesus é Deus? Por Marcelo Baço

Testemunhas de Jeová, Judeus ortodoxos (e alguns grupos messiânicos), muçulmanos, entre outros grupos afirmam categoricamente que Jesus não é Deus, nunca foi e que isso é uma invencionisse da Igreja na evolução dos séculos.
Porém, para sustentar tal afirmação ela deve ter o crivo das Escrituras, isto é, devem ter o respaldo da hermeneutica e exegese, sem interpretações tendeciosas produzidas séculos posteriores por tais grupos.

Quero apresentar evidências bíblicas para sustentar a divindade de Cristo. Para afirmarmos que Jesus é Deus, precisamos conhecer pelo menos alguns atributos exclusivos de Deus e compará-los com Jesus Cristo.

Deus é onisciente (Sl 147:5), onipotente (Gn 17:1), onipresente (Sl 139:7-12), esses são atributos naturais de Deus, existem muitos outros versículos do AT que fazem a mesma afirmação. O teólogo A. H. Strong, em sua obra Teologia Sistemática, define Deus da seguinte maneira: "Um espírito infinito e perfeito, em quem todas as coisas têm sua origem, existência e fim."

Os escritores do NT estavam familiarizados com os atributos divinos. Vriezen, teólogo especialista em AT disse que o conhecimento de Deus num sentido amplo, é a primeira exigência para um judeu. Gehard Von Rad entende que para um judeu o conhecimento efetivo de Deus é a única coisa que coloca uma pessoa num relacionamento com os objetos de sua percepção.
Os discípulos conheciam o "Shemá" - Deut 6:4, por isso, eles não tentaram "floriar" os atos de Jesus para não dar um outro entendimento, eram judeus de convicções profundas que sabiam que só existia um Deus verdadeiro. Eles apresentam Jesus como Deus. O NT aplicam a Jesus características que só poderiam ser verdadeiras se atribuídas a Deus.
Atributos de Jesus.
- Onipresença (Jo 1:4;14:6)
- Onisciência (Jo 4:16; 6:64; Mt 17: 22-27)
- Onipotente (Ap 1:8; Lc 4:39-55; 7:14-15)
- Eterno (1 Jo 5:11, 12 e 20; Jo 1:4)

Em 9 ocasiões diferentes Jesus recebeu honrarias e adoração que eram devidas somentes a Deus (Ex 20:3-6; Deut 6-13). Essa adoração foi prestada por:
- Um leproso que foi curado (Mt 8:2);
- Um dirigente da sinagoga cuja filha foi curada (Mt 9:18);
- Pelos discípulos depois de uma tempestade (Mt 14:33);
- Uma mulher cananéia (Mat 15:25);
- A mãe de Tiago e de João (Mat 20:20);
- Um endemoninhado geraseno (Mc 5:6);
- Um homem cego que foi curado (Jo 9:38);
- Todos os discípulos (Mt 28:17); e
- Tomé, que disse: "Senhor meu e Deus meu!(Jo 20:28)"

Todas essas pessoas adoraram Jesus sem uma palavra de repreensão por parte dele. Ele não apenas aceitou, como também elogiou aqueles que reconhecerem sua divindade (Jo 20:29, Mt 16:17). Nas Escrituras Jesus age como Deus, tem atributos únicos de Deus e seu poder é exclusivamente divino.
Jesus foi acusado de blasfêmia pelos fariseus por perdoar pecados. Em Marcos 2:5 diz: "Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho os teus pecados estão perdoados. Para os judeus somente Deus poderia perdoar pecados (Is 43:25). No versículo 7 do mesmo capítulo, os fariseus acusavam Jesus de blasfêmia, porém, Jesus dá uma prova de seu poder para perdoar curando o paralítico, dizendo a ele :"Levanta-te e anda", no mesmo momento ele lavantou e andou, confirmando sua autoridade.
Afirmações do próprio Cristo a respeito de sua divindade.- "Eu e o Pai somos um." (Jo 10: 30)
- "Se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai." (Jo 8:19)
- "Quem me odeia, odeia também meu Pai." (Jo 15:23)
- "A fim de que todos honrem o Filho do modo porque honram o Pai. Quem não honra o Filho também não honra o Pai." (João 5:23)

Jesus falou várias vezes de si mesmo como sendo um com Deus em essência e natureza. Mas, a maior afirmação de Jesus sobre sua divindade se encontra em Jo 8:58, quando diz: "ante de Abraão nascer, Eu Sou." Essa afirmação possui duas características.
1 - Jesus refere a si mesmo como "Eu Sou", Ele quer dizer que Ele é Deus. Pois ele está se referindo a (Ex 3:13-14), onde o próprio Deus diz a Moisés que Ele é o "Eu Sou". Jesus se apresenta como o mesmo nome que Deus apresentara a Moisés na sarça ardente.
2 - Ele afirma que é auto-existente. Ele não tem passado e nem futuro, porque é eterno. É por causa dessas duas características que os judeus pegaram pedras para atirar nele.

O caso do apostolo Paulo.
Para aqueles que estão familiarizados com as Escrituras, sabe muito bem que Paulo foi um implacável perseguidor dos cristãos, que tinha uma profunda formação rabínica instruído aos pés de Gamaliel. Por sua formação, Paulo seria aquele que teria menos probabilidade de atribuir divindade a Jesus Cristo. Mas exatamente o que ele fez, reconhecendo Jesus como o "Cordeiro de Deus" e também sendo o próprio Deus ao dizer: "Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com seu próprio sangue." (Atos 20:28). Em outra ocasião ele disse: "Aguardando a bendita esperança e a manifestção da glória do nosso grande Deus e salvador Jesus Cristo" (Tito 2:13, comparar com Rom 9:5; 1 Jo 5:20-21).

Por enquanto vou parando por aqui. Continuarei esse estudo nos próximos dias!

Deus abençoe a todos!!!


Bibliografia:
- Mais que um carpinteiro, Josh Macdoweel
- Não tenho fé suficiente para ser ateu, Norman Geisler e Frank Turek
- Enciclopédia de Apologética, Norman Geisler
- Teologia do Antigo Testamento, Ralph L. Smith